Autodidatas e independentes, os artistas que fazem parte da mostra "Moringas da Paraíba”, que acontece no BA’RA Hotel, em João Pessoa, comentam sobre suas criações e o sentido de ser paraibano. Um deles, Thiago Muller, trouxe a diversidade para retratar o nordestino. O criador ressignificou os estereótipos comumente associados à população de forma pejorativa. “A minha obra tem o abraço e o florescer em sua composição. Utilizei uma poesia e introduzi como um grito ao personagem criado em madeira, material que é minha assinatura, junto a moringa. Desta vez, a cabeça achatada e quadrada não são vistas como vergonhosas, mas sim como orgulho”, contou.
Francc Neto também reconstruiu a estética. Ele quebrou, desconstruiu e desenvolveu sua obra. Nas suas escolhas, as moringas estão quebradas e alojadas umas às outras. “A desconstrução é o que conduz todo meu trabalho. Para a mostra, pretendi trazer muito da ideia do suporte com os materiais porque é o que atuo há um bom tempo. Ao longo das conversas, trocas e, até mesmo, ajuda, transmitimos uns aos outros na criatividade. Sou um individualista no que faço, mas logo trabalhamos de maneira colaborativa, principalmente porque sou o mais velho da turma e passei a minha experiência para os outros artistas”, disse. Já para Felipe Meira, todo o desenvolvimento foi muito diferente do que está acostumado. Geralmente ele atua em grandes suportes e, desta vez, o desafio foi criar em objetos com dimensões menores.
“Sou muralista, então atuo em espaços abertos e crio desenhos com escalas mais amplas. Neste caso, precisei aperfeiçoar um pouco as técnicas nos dois objetos. Em um, quis trazer o aspecto da modernidade, do descolado e da afetividade, traços comuns ao nosso povo, e ressaltar o propósito principal da moringa, ser recipiente para armazenar água e dividir com o próximo. Nela, coloquei o coração, o olho e a lágrima para representar esse sentimento. Na outra, trouxe a dualidade do sol e do mar, o quente e o frio, a luz e a água, para remeter a dois elementos naturais importantes e em abundância por aqui. Por isso, dentro há uma lâmpada e a luminosidade se expande pelos furos e vão de encontro com as ondas desenhadas na superfície”, detalhou.
Nascida na cidade de Sousa, sertão da Paraíba, Thaty Sonally também foi escolhida para participar da mostra. Ela planejou ressaltar elementos e materiais que são presentes no cotidiano do interior da Paraíba - sob o olhar feminino. “Eu queria retratar o que eu sou, uma mulher sertaneja, forte, que pode estar, fazer e ser o que quiser. Por isso, as duas mulheres têm a presença do bordado, do couro, da chita, do cacto e do barro em toda sua composição, da cabeça ao tronco. Além disso, neste caso, cada uma representa o sertão e o mar. Minha intenção era fugir do lado triste e do sofrimento do sertanejo. Eu quero que as pessoas vejam e tenham essa perspectiva mais otimista daqui”, ressaltou.
Paraibanos por amor - O olhar de fora também teve espaço na exposição. Axel Arias e Rapha Siqueira, ambos da Argentina e São Paulo, respectivamente, mostraram as experiências em morar no estado. “Trabalho muito com cores e acredito que elas evocam emoções e sentimentos nas pessoas. Por isso apliquei as que representam a Paraíba por meio do conceito da iconografia. Como moro aqui há quase seis anos, quis retratar também como fui abraçada por todos e a influência artística que tive com a minha vinda para cá. Por isso, as mãos estão presentes nas moringas e representam hospitalidade e receptividade com quem é de fora”, contou Rapha. “A princípio, o acolhimento dos paraibanos foi o que me norteou. Por isso, inseri na peça o peito sendo aberto com o coração à mostra. Essa atitude mudou minha visão sobre essa questão porque venho de um contexto que não é comum ter essa abertura com todos. Além disso, inseri uma vela dentro do objeto para evidenciar a quentura e a paixão tão presentes em cada um que tive contato ao longo da minha vida aqui”, complementou Axel.
A mostra "Moringas da Paraíba" conta com obras dos seguintes artistas: Francc Neto, Thiago Müller, Axel Arias, Felipe Meira, Rapha Siqueira e Thaty Sonally. A iniciativa ficará em exibição até o dia 17 de setembro, na recepção do hotel. Após este período, as peças poderão ser adquiridas pelos apreciadores.
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